Por: Alberto Domingos-Jornalista Imobiliário:
Tenho acompanhado o sector imobiliário angolano de perto há alguns anos, e é notável o seu crescimento em número de empreendimentos, agentes e oportunidades de negócio, apesar da crise que assola o segmento. No entanto, há um problema grave que raramente é trazido ao debate público: a falta de transparência entre os próprios profissionais do ramo. Este é um mal que, se continuar a ser ignorado, pode comprometer a credibilidade e o futuro da mediação imobiliária no país.
Ao invés de um ambiente de cooperação e profissionalismo, muitos corretores encontram-se num verdadeiro campo de batalha e selvajaria, onde impera a desconfiança. São recorrentes os relatos que me chegam de mediadores que são traídos por colegas ou, pior ainda, pelos directores das próprias agências que deviam garantir o mínimo de ética e justiça interna.
Como consequência, muitos profissionais, desgastados por situações semelhantes, optam por sair e abrir as suas próprias agências — com a ilusão de que poderão criar algo diferente. Contudo, em muitos casos, o ciclo de deslealdade repete-se, agora com eles no topo da estrutura.
Isso está a tornar-se uma cultura de sobrevivência onde cada um tenta proteger o seu espaço, mesmo que isso implique prejudicar o outro. O resultado é desastroso: negócios mal geridos, talentos desmotivados e clientes cada vez mais desconfiados da classe e perda de profissionais de maneira recorrente por parte de agências que deviam preservar e reter os melhores talentos.
A partilha desonesta de comissões, a omissão de informações entre colegas e o favorecimento interno dentro das agências são algumas das práticas que têm minado o crescimento saudável do sector. Muitos jovens entram para esta área com expectativa de progresso, mas saem desiludidos depois de vivenciarem estas práticas pouco éticas.
É urgente criar uma cultura de ética no ramo imobiliário angolano. A Lei n.º 14/21 sobre a actividade de mediação imobiliária trouxe avanços importantes, mas ainda está longe de ser efectivamente aplicada. Falta fiscalização séria, falta responsabilização real, e falta sobretudo vontade de mudança dentro das próprias agências.
O sector precisa de mais do que leis no papel. Precisa de contratos claros, de sistemas transparentes de gestão de negócios, de justiça na distribuição de comissões e de respeito profissional.
Agências que valorizam a transparência tendem a crescer de forma sustentável e a reter os seus melhores quadros. Já aquelas que promovem a intriga e o favorecimento caminham lentamente para a falência — primeiro moral, depois financeira.
A confiança entre mediadores não pode continuar a ser um luxo. Tem de ser a base de qualquer negócio sério. O momento de fazer é agora.
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